segunda-feira, 8 de julho de 2013

Os Maias...Um passeio aos meus queridos imortais. A intemporalidade de Eça!!!



Há dias em que me acompanha a aridez do deserto ...
... instantes em que a garganta se aperta e desviamos o olhar, esperando em vão que se abra o buraco onde queremos desaparecer.
A poeira da trapalhada indecorosa dos jogos de poder da partidocracia está assentar, falta o beneplácito do Presidente da República e ... segue a austeridade, custe o que custar.
Até à solução final.

" E como Ega se curvava, vencido, cheio só de respeito—o outro, faiscando todo de finura e cynismo, atirou-lhe uma palmada ao hombro:

—Meu caro, a politica hoje é uma coisa muito differente! Nós fizemos como vocês os litteratos. Antigamente a litteratura era a imaginação, a phantasia, o ideal... Hoje é a realidade, a experiencia, o facto positivo, o documento. Pois cá a politica em Portugal tambem se lançou na corrente realista. No tempo da Regeneração e dos Historicos a politica era o progresso, a viação, a liberdade, o palavrorio... Nós mudamos tudo isso. Hoje é o facto positivo,—o dinheiro, o dinheiro! o bago! a massa! A rica massinha da nossa alma, menino! O divino dinheiro!

E de repente emmudeceu, sentindo na sala um silencio—onde o seu grito de «dinheiro! dinheiro!» parecera ficar vibrando, no ar quente do gaz, com a prolongação de um toque de rebate acordando as cubiças, chamando ao longe e ao largo todos os habeis para o saque da Patria inerte!... "
( Dos Maias de Eça de Queirós)