quinta-feira, 29 de maio de 2014

Na dança das cadeiras, Paz às suas almas! (Que nunca emudeçamos. Haverá sempre quem escute!)...

O tempo de espera não é um tempo sem emoção nem acontecimentos... 
Acho muito bem que apareçam políticos "excêntricos" para abalar as mentes conservadoras dos partidos e daqueles que julgam que detêm o exclusivo das prerrogativas democráticas. Não julguem por um instante que Marinho Pinto preenche as minhas medidas, mas defendo o princípio de que, todo e qualquer cidadão, "desreferenciado e sem cartão de sócio", se possa fazer ao piso da política. A falsa alternativa de mudança será voltar a apostar nos mesmos cavalos de corrida, gastos e cheios de vícios...
Na dança das cadeiras, Paz às suas almas!

"En el principio
Si he perdido la vida, el tiempo, todo
Lo que tiré, como un anillo, al agua,
Si he perdido la voz en la maleza,
Me queda la palabra.

Si he sufrido la sed, el hambre, todo
Lo que era mío y resultó ser nada,
Si he segado las sombras en silencio,
Me queda la palabra.

Si abrí los labios para ver el rostro
Puro y terrible de mi patria,
Si abrí los labios hasta desgarrármelos,
Me queda la palabra."
    Que nunca emudeçamos. Haverá sempre quem escute!

quarta-feira, 28 de maio de 2014

Senhoras e senhores, meninos e meninas: aprendam a falar de amor...

Algo se passa comigo, ando que não me aturo. Não sei porquê, tenho várias suspeitas ...
Palavras de amor. Eram dos poetas, dos apaixonados, dos adolescentes, das mães para os filhos, sussurravam-nas as solteironas aos gatos, as beatas diante do Crucificado; liam-se nos romances em que a doente se apaixonava pelo médico, ou a criada de dentro caía nos braços do fidalgo; ouviam-se nos fados, soletravam-nas as atrizes nos filmes a preto e branco. 
Hoje as palavras de amor continuam a ser dos poetas e dos namorados, das mães, das solteironas, das beatas, mas são-no também da publicidade...
Já havia inflação, até que uns dez anos atrás chegaram os blogues, os "faces-buques"! e com eles as palavras de amor tornaram-se enxurrada, com a qualidade das enxurradas.
Sinal dos tempos, da vulgarização, das modas, da tendência para nivelar pelo mais baixo, mais usual, compreensível mesmo para os fracos do espírito, abunda a chochice, a frase requentada...

... aquele "amo-te" tão desgastado pelo abuso que dá para parafrasear o "se fosses só três sílabas" de Alexandre O'Neill.



terça-feira, 27 de maio de 2014

Olá...(devaneios)...


Ouve-se muito "não fales do que não conheces!", "não julgues pelas primeiras impressões!". Em suma,
" abre a tua mente!"...
 Tenho para mim que não há no mundo maiores enganos do que este: o da presunção de se ser bom, fantasioso e construído, consciente, muito mais do que aspirante, do que se é e do que se pensa ser.

Desde que o mundo é mundo que quem não se adapta está condenado à extinção. A natureza evolui, a sociedade também (nem sempre para melhor) e que remédio há senão fazer algumas cedências, na velha lógica se não os podes vencer, junta-te a eles - só no mínimo indispensável, diria eu.
 Mudar para melhor, admitir erros passados, exige humildade e sabedoria, mas também carradas de bom senso.
Por vezes temos de variar o caminho ou tentar um método diferente para chegar ao destino.
Não estás feliz?
Olha, não sei, as coisas acontecem apenas e temos de as enfrentar. Como num tribunal, as acusações nos olhos de terceiros, a garganta seca, a culpa, a maldita culpa a castigar tudo e todos.
Cometo erros por falta de tranquilidade. O que é a tranquilidade? O nosso mundo está partido aos pedaços, tem brechas brutais que se agravam a cada hora de um relógio que não nos pertence. Estamos em colisão, em extinção, ameaçados...
 Não? Certo. Estou a desconversar...


Copy - paste( Boaventura Sousa Santos)...agradecer à corja, talvez!

"O pós-troika vem mostrar que esta condição vai durar mais tempo e que o objetivo que se pretendeu com a integração na União Europeia – tentar ver se Portugal saía do estatuto de país semiperiférico – não foi possível".

"a troika sai (mas) não há Europa da coesão social. Há uma Europa de concorrência entre Estados, mais desenvolvidos e menos desenvolvidos".

"a carta de intenções, o próprio euro e o tratado orçamental são as três coisas que impedem que Portugal dê a volta criativa, como fez o Equador, que pagou a sua dívida no mercado secundário ou a Argentina, que rompeu dom co FMI. Estar na Europa, nestas condições, é uma prisão".

"Portugal continuará a fornecer a mão-de-obra e nada mais", visto que, destaca, “tínhamos passado a ser um país de imigrantes, voltamos a ser um país de emigrantes. Tínhamos direitos sociais no domínio do trabalho, velhice, educação e saúde, que têm sido precarizados de modo a que Portugal se pareça, cada vez mais, com um país subdesenvolvido ou do terceiro mundo".

"a tentativa [de Portugal deixar de ser um país semiperiférico com a integração na União Europeia] foi tão mal gerida que ficámos pior. Não ganhámos nada em termos da nossa posição no sistema mundial, não ganhámos nada com a integração na UE e ficámos pior, porque perdemos os instrumentos que poderiam, de alguma maneira, provocar uma retoma significativa da nossa economia e da nossa sociedade".

O que não estão a ver é que a troika vai ficar, deixou tudo planeado" e a alternativa a esta situação, sublinha, "teria de ser protagonizada pelo PS, eventualmente em aliança com partidos à sua esquerda". Acontece que, defende, "a coragem do PS foi sempre contra a esquerda e continua a ser" e "como os ventos agora vêm da direita, não estou a ver a coragem. Pelo contrário".

A presença da troika em Portugal "trouxe uma defenestração, um insulto, um atraque total à nossa auto estima. Abriu a caixa de Pandora que é o racismo da Europa do Norte em relação à Europa do Sul", tratando os portugueses “como um bando de indivíduos preguiçosos que viveram acima das suas posses, à custa dos bancos alemães” quando, remata, "foi exatamente o contrário – os bancos alemães é que viveram à nossa custa durante estes anos".
(Boaventura de Sousa Santos)



domingo, 25 de maio de 2014

O Roubo do presente...(José Gil)

TEXTO de José Gil (filósofo)

O Roubo do presente

"Há pelo menos uma década e meia está a ser planeada e experimentada quer a nível do nosso país, quer na Europa e no mundo uma nova ditadura - não tem armas, não tem aparência de assalto, não tem bombas, mas tem terror e opressão e domesticação social e se deixarmos andar, é também um golpe de estado e terá um só partido e um só governo - ditadura psicológica.
Nunca uma situação se desenhou assim para o povo português: não ter futuro, não ter perspectivas de vida social, cultural, económica, e não ter passado porque nem as competências nem a experiência adquiridas contam já para construir uma vida. Se perdemos o tempo da formação e o da esperança foi porque fomos desapossados do nosso presente. Temos apenas, em nós e diante de nós, um buraco negro.
O «empobrecimento» significa não ter aonde construir um fio de vida, porque se nos tirou o solo do presente que sustenta a existência. O passado de nada serve e o futuro entupiu. O poder destrói o presente individual e coletivo de duas maneiras: sobrecarregando o sujeito de trabalho, de tarefas inadiáveis, preenchendo totalmente o tempo diário com obrigações laborais; ou retirando-lhe todo o trabalho, a capacidade de iniciativa, a possibilidade de investir, empreender, criar. Esmagando-o com horários de trabalho sobre-humanos ou reduzindo a zero o seu trabalho. O Governo utiliza as duas maneiras com a sua política de austeridade obsessiva: por exemplo, mata os professores com horas suplementares, imperativos burocráticos excessivos e incessantes: stress, depressões, patologias, border-line, enchem os gabinetes dos psiquiatras que os acolhem. É o massacre dos professores. Em exemplo contrário, com os aumentos de impostos, do desemprego, das falências, a política do Governo rouba o presente de trabalho (e de vida) aos portugueses (sobretudo jovens)
O presente não é uma dimensão abstracta do tempo, mas o que permite a consistência do movimento no fluir da vida. O que permite o encontro e a intensificação das forças vivas do passado e do futuro - para que possam irradiar no presente em múltiplas direcções. Tiraram-nos os meios desse encontro, desapossaram-nos do que torna possível a afirmação da nossa presença no presente do espaço público. Actualmente, as pessoas escondem-se, exilam-se, desaparecem enquanto seres sociais.
O empobrecimento sistemático da sociedade está a produzir uma estranha atomização da população: não é já o «cada um por si», porque nada existe no horizonte do «por si». A sociabilidade esboroa-se aceleradamente, as famílias dispersam-se, fecham-se em si, e para o português o «outro» deixou de povoar os seus sonhos - porque a textura de que são feitos os sonhos está a esfarrapar-se. Não há tempo (real e mental) para o convivio. A solidariedade efectiva não chega para retecer o laço social perdido. O Governo não só está a desmantelar o Estado social, como está a destruir a sociedade civil. Um fenómeno, propriamente terrível, está a formar-se: enquanto o buraco negro do presente engole vidas e se quebram os laços que nos ligam às coisas e aos seres, estes continuam lá, os prédios, os carros, as instituições, a sociedade. Apenas as correntes de vida que a eles nos uniam se romperam. Não pertenço já a esse mundo que permanece, mas sem uma parte de mim. O português foi expulso do seu próprio espaço continuando, paradoxalmente, a ocupá-lo. Como um zombie: deixei de ter substância, vida, estou no limite das minhas forças - em vias de me transformar num ser espectral. Sou dois: o que cumpre as ordens automaticamente e o que busca ainda uma réstia de vida para os seus, para os filhos, para si.
Sem presente, os portugueses estão a tornar-se os fantasmas de si mesmos, à procura de reaver a pura vida biológica ameaçada, de que se ausentou toda a dimensão espiritual. É a maior humilhação, a fantomatização em massa do povo português.
Este Governo transforma-nos em espantalhos, humilha-nos, paralisa-nos, desapropria­-nos do nosso poder de acção. É este que devemos, antes de tudo, recuperar, se queremos conquistar a nossa potência própria e o nosso país."

segunda-feira, 19 de maio de 2014

O caos do sonho...

Os homens perfeitos voam e estatelam-se ao primeiro bater de asas. E acabam irrepreensíveis pedras de calçada calcada, de tão perfeitos que são. E ainda que pensem que assim não será, assim é e assim são e assim serão. Rodam num (i)mundo que volteia à roda de um umbigo. E assim trazem as trevas; que os umbigos paridos não dão luz. E as flores murcham.      
Voam o voo de abutre, os homens perfeitos. O voo dos que rodopiam em forma de gula. A Justiça lhes fará história. A estória dos calcados que calcaram. 
Depois há os outros. Os que não almejam esse "grau de excelência". E porque levam menos carga nos ombros (o alívio da consciência da imperfeição), às vezes voam, mesmo. Sempre sem asas. Voam em forma de riso, em forma de choro, em forma de sonho. Em forma de ombro chorado. De abraço abraçado.
Em forma de imperfeição. 
Voam.
Sem nunca tirar os pés do chão. Sem nunca pôr os pés no chão. 
Os homens imperfeitos voam.

segunda-feira, 12 de maio de 2014

Sabujice...arrepia-me!!!

Ando um pouco acima do chão
Nesse lugar onde costumam ser atingidos
Os pássaros

(daniel faria)
Quem serei?...
Não me revejo no próximo, não comparo, quero-me de fora.
A quantidade do que já escrevi por aqui sobre as pessoas cheias de peçonha e mel quase dava para fazer um Tratado da Sabujice, ou um Manifesto anti Lisonja Barata.
Quando a esmola é muita, o santo desconfia - e é preciso ser muito ingénuo para não distinguir admiração sincera (ou simples diplomacia, que às vezes nos obriga a ser polidos com quem não simpatizamos) de untuosidade, vulgo lamber botas.
A untuosidade lembra-me sempre a Alcoviteira do Auto da Barca do Inferno: vozinha maviosa, elogio fácil de quem quer angariar meninas, o riso imediato a cada piadinha que o alvo diz, muita solicitude, muito empenho, muita humildade, muito sim a tudo, e olho de falcão para arranjar as intrigas que forem precisas, não vá o pássaro fugir.
Chego a sentir um misto de repugnância, vergonha alheia e pena por quem se rebaixa a engraxar abjetamente, tirando o chapéu a pessoas que inveja ou despreza com um servilismo doentio...ou oportunista!!!



Isto dos resgates !!!... (toca a correr comprar o livro!).

Um país armadilhado...

...pela mentira, pela emigração, pela injustiça, pelo medo, pelo desemprego, pelo empobrecimento, e pelo resto/rosto que a cada um de nós cabe dizer.
«os Governos puseram os interesses dos bancos à frente dos interesses dos cidadãos»
Porque afinal ...
... o resgate financeiro não visava servir os países que o suportaram nem sanear as suas finanças públicas, mas resgatar os bancos alemães e franceses.

 E eu muito m'admiro e m'espanto e m'outras coisas! Oh minha gente!, acordem, que já não há pachorra para tanta inocência e filha-da-putice junta. Então só percebem que são o combustível destes incendiários quando já estão queimados? Vão, vão correr a comprar-lhes os livros onde vos explicam como vos roubaram, para ver se aprendem a meter-lhes o dinheiro mais à mão...

sábado, 3 de maio de 2014

A nobre arte de celebrar!!!...

Hoje recordei esta bela frase:
" O poder só é necessário para fazer o mal. Para fazer tudo o resto basta o AMOR!"
Aí está uma bela verdade...

Não precisamos de gostar de tudo, experimentar tudo, aderir a tudo, ir com a multidão, pensar pela cabeça do populacho.
Procure-se uma certa exclusividade...
Admito que se algo me traria algum bem-estar era saber que as pessoas conseguiriam respeitar o dia que se aproxima, aquele que dizem ser o da mãe. Podemos sempre recorrer a um qualquer lugar comum e afirmar que dia da mãe é todos os dias. Só que estou farta de lugares comuns. Farta de banalidades. Estou farta de coisas bonitas que se dizem, se escrevem, e não se sentem. Estou farta de gente falsa. Sinto-lhes o cheiro à distância. E o cheiro tresanda.
Chateia-me que façam de um dia que deveria ser especial, puro comércio. Cansam-me os canais de televisão e as l(p)utas das audiências para ver quem vende melhor o dia. Chateia-me que vendam mães. Larguem-me. Enfiem a ganância no sítio que vos der mais jeito.
Farta de ver tanta gente a "prostituir-se" por dá cá aquela palha...

 Uma sépala, pétala, um espinho,
Numa simples manhã de verão -
Um frasco de orvalho -
Uma abelha ou duas -
Uma brisa - um bulício nas árvores -
... E eis-me rosa!

Rosas para todas as mães!!!

quinta-feira, 1 de maio de 2014

Dia do Trabalhador...(a homenagem em termos artísticos).


Dia do Trabalhador
... fica apenas a homenagem em termos artísticos...



                                                                   "Operários"   (de Tarsila do Amaral, 1933)
                                                      

O OPERÁRIO EM CONSTRUÇÃO
"Era ele que erguia casas
Onde antes só havia chão.
Como um pássaro sem asas
Ele subia com as asas
Que lhe brotavam da mão.
Mas tudo desconhecia
De sua grande missão:
Não sabia por exemplo
Que a casa de um homem é um templo
Um templo sem religião
Como tampouco sabia
Que a casa que ele fazia
Sendo a sua liberdade
Era a sua escravidão"
      Mais profundo que um discurso...
Tão leve como a canção
Poema inteiro e sério
Versos que desvendam o mistério
Do operário em construção
"E o operário disse: Não!
E o operário fez-se forte
Na sua resolução"