sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Pequeníssimas dádivas...(com José Luís Peixoto)


Vão existir sempre pessoas a dizer e a escrever coisas diferentes, que nos irão despertar a atenção, pela sua beleza ou pelo seu conteúdo...

"mãe, tenho pena. esperei sempre que entendesses

as palavras que nunca disse e os gestos que nunca fiz.
sei hoje que apenas esperei, mãe, e esperar não é suficiente.

pelas palavras que nunca disse, pelos gestos que me pediste
tanto e eu nunca fui capaz de fazer, quero pedir-te
desculpa, mãe, e sei que pedir desculpa não é suficiente.

às vezes, quero dizer-te tantas coisas que não consigo,
a fotografia em que estou ao teu colo é a fotografia
mais bonita que tenho, gosto de quando estás feliz.

lê isto: mãe, amo-te.

eu sei e tu sabes que poderei sempre fingir que não
escrevi estas palavras, sim, mãe, hei-de fingir que
não escrevi estas palavras, e tu hás-de fingir que não
as leste, somos assim, mãe, mas eu sei e tu sabes."

(José Luís Peixoto, in A Casa, a Escuridão)

L.Makabresk

Tempos opacos! Sinais que reluzem na memória...


Os tempos estão fora dos gonzos. Não é só a questão das praxes e dos seus rituais absurdos. Não. Há mais qualquer coisa insidiosa que anda misturada com o ar que respiramos. Um clima de intolerância aliado a um desejo de humilhar os fracos parece estar a descer sobre a sociedade. O pior de tudo, porém, está em que aquilo que era evidente até há pouco - refiro-me a uma certa decência nas relações entre pessoas - está a tornar-se, a cada dia que passa, mais opaco. Esta opacidade crescente tem o poder de escancarar as portas por onde o mal entra. Por vezes, há a sensação de que a própria noção de direitos - nem me refiro já aos constitucionais, mas aos básicos, aos direitos do homem - está a tornar-se decididamente obsoleta. Qualquer coisa saiu do lugar. Existe qualquer valor terminante!...
Andamos todos em conjunto, iguais na diferença, muito mais do que a sensatez nos deveria permitir. No lago negro do fundo, ninguém nada.


Rothko

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Mulheres perfeitas. (Guardiã da Tradição)...

Muito de vez em quando, ainda tenho a felicidade de tropeçar numa legítima representante da minha noção de mulher perfeita. Ou antes, da noção algo tradicional de mulher quase perfeita (vulgo senhora) que me foi incutida.
Fico contente quando encontro uma Guardiã da Tradição. A Guardiã da Tradição pode ser idosa ou novíssima, rica ou remediada, mas é essencialmente muito bem educada. É preciso ser-se especial para beirar a perfeição sem ceder à amargura.
Caminham sempre direitas, com um porte impecável, ainda que lhes doam os pés. Jamais demonstram em público quando estão magoadas, cansadas ou tristes. Guardam as suas expansões, por maiores que sejam, para a intimidade, porque uma senhora é uma senhora em todas as ocasiões.
O seu cabelo é sempre brilhante, o seu visual é sempre de qualidade, requintado e discreto. Mais do que beleza, possuem elegância, bom ar, graça. São razoavelmente cultas mas não o exibem, porque ninguém gosta de uma maria sabichona.
Por muito bonita que seja uma Guardiã da Tradição, as outras mulheres não se sentem ameaçadas por ela: antes, ela fá-las sentir mais novas, ou mais bem vestidas, ou mais belas, porque consegue melhor que ninguém dar elogios sinceros, sorrir com os olhos e dizer o que as pessoas gostariam (ou precisam) de ouvir sem peçonha nem falsidade. Reagem à adversidade, à mudança indesejada, com a graciosidade que só pode ser possuída por quem sabe que neste mundo, tudo nos é emprestado. E por isso são serenas. E continuam belas, ou se não belas encantadoras, mau grado o passar dos anos.
Mulheres assim são tão difíceis de encontrar, hoje em dia, como um homem honesto.
E quando me cruzo com uma, tiro-lhe o meu chapéu. Ou tiraria, se fosse homem e os tempos, outros.

Michelle Torrez


quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

"A culpa"...e ainda as praxes!!!...


É cada vez mais frequente encontrar jovens de capa e batina ao longo de todo o ano por todo o lado, ou seja, já não é coisa que se circunscreva ao início do ano letivo.
Não é também raro, desde há alguns anos, ouvir-se falar de excessos absurdos ligados a praxes. Sabe-se, de vez em quando, de praxes que envolvem humilhações, maus tratos. Quando isso se sabe, alguém manda instaurar um processo e a coisa fica por aí.
O que intriga nisto é o que será que vai na cabeça destes jovens que aceitam ser humilhados e fisicamente mal tratados?
O que acho mesmo que isto significa é que ninguém respeitável do ponto de vista intelectual tem poder ou, tendo-o, o quer exercer contra a imbecilidade geral. Isto significa também que à frente de uma parte das universidades, como do país, estão idiotas, comodistas ou cobardes.

O país aceita as praxes — eu tenho pena do país também por isso.
Há muita coisa que escapa ao nosso controlo e que o tempo e a vida ou o mundo torna irreversível. 
Os trajetos não fazem o sentido esperado, a tolice agarra a espuma dos dias.
Às vezes é só isso mesmo, uma pena...


Anke Merzbach.

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Trágico retrato dos dias, do País. (GPS)...


Houve um tempo...

...em que me atrevia a dizer: eu não posso, eu não quero (provavelmente seria porque ainda não sabia que na realidade era assim).
Às vezes é só isso mesmo, uma pena.

Quem tem GPS tem tudo, quem não tem GPS não tem nada, por isso, com GPS é sempre a abrir, é um descanso, ninguém se perde e é um ver-se-te-avias. Parece que estão envolvidos ex-deputados e ex-governantes do PS e do PSD, do chamado "arco da governação", o que neste caso, a confirmarem-se as suspeitas, alarga a sua esfera de influência, passando também a ser conhecido pelo "arco da corrupção".
Grupo GPS - Educação e Formação, agrupamento de 26 colégios privados, criado em 2003, dos quais 14 beneficiam de contratos de associação e recebem financiamento do Estado, o que significa que aquelas "ajudas" saem todas do nosso bolso.


E  os lares dos idosos ( ipss) ,senhor! Aquela coisa dos donativos, coitadinhos que a reforma se apouca! 
E fácil, facílimo, demasiado fácil, porque pode matar.
Emociono-me com o sofrimento, revolto-me com a inércia, intrigo-me com os erros desprovidos de razão consistente e justificativa. 
No fundo, o mundo não é mais do que um complexo de "oportunismas". Gosto muito de ouvir dizer que tudo está nas nossas mãos. Preciso, até, acalenta-me o espírito, consubstancia-me as vontades, orienta-me os caminhos, salva-me dos medos. Mas não está, é tudo uma grandessíssima mentira!!!...
Egon Schiele

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Esticar o dia...


Muito do que escrevo por aqui - não vai muito além de "estados de alma", pelo que nada é absoluto e definitivo. Um espaço de exercício, onde conto histórias e largo fragmentos da minha visão do mundo. Escrevo estritamente no âmbito do desabafo, do alívio de uma carga negativa que nos atormenta a alma e o juízo, e que muitas vezes se estende até ao corpo – mormente numa altura em que a depressão coletiva é sal em mar salgado e a hipersensibilidade irrompe em eriçados arrepios pelas epidermes.
Não projeto aspiração à fama mundial , porque requer grande esforço e persistência, para além de talento nato.
Formiga, quer-se oculta e longe, não vá surtir como uma pandemia e propague. E assim é.
Art - Monserrat Gudiol

domingo, 19 de janeiro de 2014

Farolices. Acaba-se pobre quando muito se esbanja em "gestos" vazios...

Tinha sempre uma opinião sobre todos os assuntos. Que defendia de uma forma definitiva, convita e, sobretudo, incontestável. Nunca tinha dúvidas, sabia sempre tudo e, pior do que tudo isso, tinha sempre a certeza que tudo o que dizia, era o "certo". Como era infeliz e triste a sua vida. E pequeno o seu universo de certezas. Nunca deu oportunidade a si , de crescer com a opinião dos outros que, por não coincidir com a sua e lhe faria ver outros horizontes. Era como aquelas casas em que as portas nunca estão abertas para entrar, apenas são usadas para sair.
Não havia assunto nenhum que não fosse do seu domínio, ainda que muitas vezes a opinião que manifestava não passasse de um non-sense. Não havia dúvidas ou incertezas, não havia espaço para outras opiniões que não fossem as suas. Porque o espaço é pequeno e a cegueira ocupa-o todo.
E quando se deixa a zona de conforto, ter que despir a roupa que se enverga habitualmente?!
À despedida, ninguém sai do seu percurso para lhe desejar "boa viagem". 

Há gente que vive com a cabeça enterrada na areia, outras com a cabeça cheia dela.
Montserrat Gudiol

sábado, 18 de janeiro de 2014

O lado de lá...ou as faces da vida!


Na verdade estou a cansar-me da visão idílica das coisas .
Uma das palavras de ânimo mais estafadas que recebemos, é aquela frase, que pensamos ser portuguesa - e que se calhar é universal -, para olharmos para o mundo que nos rodeia, onde não faltam exemplos de quem ainda vive pior que nós, e mesmo assim resiste, sem vontade de desistir...
Este olhar para o lado e para baixo, está de alguma forma ligado à religião católica.
Durante a nossa história , os seus educadores sempre se esforçaram por vender a ideia, que o "paraíso" é para aqueles que são capazes de dar a outra face como Jesus, ou seja, os humildes e subservientes.
Mesmo sem concordar com esta "linha castradora", acaba-se por intuir que se as camadas sociais mais vulneráveis, vivem e resistem a estes tempos, todos o conseguirão fazer. Mesmo que acabem a viver num simples quarto ou até debaixo da ponte .
A natureza humana tem muito que se lhe diga...
A igualdade absoluta nunca será uma realidade. Ilude-se quem assim pensa, é um mito. A igualdade de oportunidades, sim, é possível, tem de ser possível. Defendo-a e considero-a essencial e um direito inalienável de qualquer ser humano. Não gosto de quem contribui para o apartheid de oportunidades, mantendo as elites e sacrificando os outros. 

 Temporal ... esta bela graça que nos caiu no colo!!!...
 É o que penso, observo e absorvo.
(Andrew Wyeth)

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Só sei que nada sei ( Sócrates). A distância entre a ciência e as empresas, segundo "Pires de Lima".


"Pires de Lima lamenta distância entre a ciência e as empresas. Pires de Lima disse não ser possível “alimentar um modelo que permita à investigação e à ciência viverem no conforto de estar longe das empresas e da vida real”, referindo o elevado nível de doutorados “per capita” em Portugal por oposição ao baixo número de doutorados nas empresas. " 
(No Público)

O empreendedorismo, com os flósofos, está tramado! logo um diploma de inútil - quem não serve para "mexer a economia" ( a sua economia) é um parasita.
A Filosofia não é ciência! é "conversa", razão pela qual nem nos devia fazer perder tempo... tal como a História, ou o Latim ou Grego...

Filósofo é só para os mortos de respeito. Só um delirante diz que é "filósofo"...
Já o outro dizia que os historiadores não servem para nada. Mas a filosofia ainda serve menos para coisa alguma. Se o outro tivesse escolhido fazer o curso por equivalências em filosofia, faria uma lista de discursos como material de equivalência e encontraria alguém para lhe dar razão.
Porque a filosofia, vendo bem, nunca serviu para nada. Claro, podemos suportar o Sócrates e o Platão, e, vá lá, mais meia dúzia, para enfeitar o mundo. Agora, andar por aí e não ser pessoa que possa, ao menos, criar uma PME, isso é que não se compreende.

(Rodin le penseur)

A dignidade. Pequenos nadas!...


À bruma da manhã segue-se a da tarde e, depois, a da noite... Fim de semana à vista.
Temos de preparar o nosso canto para dias de dolce far niente, neste inverno que segue frio e com muita chuva. A escolha? Fácil...Parar para pensar.
Sou de uma das gerações criadas na bela ilusão do ideal solidário, de amanhãs tão soalheiros que, tribal ou mundial, nenhuma guerra teria horror bastante para ensombrá-los.
Inesperadamente, as sombras criadas pelas hecatombes depressa esqueceram, e embora nos amanhãs de muitos o sol nem sempre brilhe, para quase todos são mais frequentes as abertas.
Mas porque assim tinha que ser, ou Deus assim mandou, foi-se-nos o ideal solidário e deixámos que viesse ao de cima o conforto da indiferença.
Pertenço à fasquia da população que acha que todas as pessoas do mundo deveriam ser obrigadas a parar para pensar. A dignidade, assume um caráter de urgência!!!...
Apetece-me às vezes perguntar quanto dinheiro é preciso para que se tratem pessoas doentes com dignidade. Quanto custa um desabafo, por quanto fica um abraço, quantas horas de trabalho são necessárias para uma palavra de apreço.

Hoje quero apenas sossego e  ser...
...ser exige respeito por nós próprios, em tudo e pequenos nadas.

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Patamares...

Há dias que desenterram memórias tais, que o chão fica todo remexido e não há onde assentar o pé sem ir ao fundo.
A calma é um lugar que se consegue aos cinquenta, oiço dizer, e que fica num local que eu desconheço. Invejo-a tanto no bom sentido... E às vezes penso nos patamares da existência e dos desfasamentos do corpo em relação a eles. Ou nas vontade que podemos não concretizar, porque os anos não deixam. Que bem vistas as coisas distribuímos por necessidades supremas que são sempre mais urgentes do que nós próprios e os nossos quereres, que diz-se, também se redimensionam com a idade. E temos outras prioridades. Eu preciso delas e de uns anos abastados de vagar e de calma, com sapiência suficiente para não lutar contra o que não merece a minha preocupação, quando eu  viver só porque sim.
Viver só porque sim não é viver desprovido de sentido, nada disso. Viver só porque sim é viver de amor à vida, com tudo o que ela tem e que realmente nos importa. Que pode ser um filho, pode ser um amor, pode ser uma viagem, pode ser um livro, pode ser uma noite de sono ininterrupta, ou pode ainda ser uma folha seca que num dado momento encontramos no chão. Sim, no chão, aquele sítio que certamente só conseguiremos ver bem mais tarde, quando olharmos de perto os passos dos pés e tivermos tempo, se quisermos, para viver todas estas coisas em simultâneo, sem precisar de opção.


terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Colorir o cinzento dos dias que passam. A vida in heaven...

O país vai correndo na sua normalidade planificada de estupidificação: foi o Natal com muita pena dos pobres e com muitas atitudes solidárias, depois veio a morte de Eusébio transformado em espetáculo nacional com o Benfica a provar que é um grande produtor de eventos, a Bola de Ouro de Ronaldo (com todo o respeito!) e de seguida vem o Carnaval.
Enquanto isso vendem-nos a teoria de que o país melhora.
Não, não consigo esconder a emoção quando ouço os nossos governantes exigir à geração dos avós solidariedade, abdicando das suas reformas e pensões para garantir o futuro aos jovens.
Alguns desses , querem a redução da escolaridade obrigatória do 12º para o 9º ano e a alteração profunda da Constituição, de molde a introduzir o perfume do texto constitucional do Estado Novo...
Emociono-me, porque estes jovens merecem toda a minha consideração e respeito, pela defesa das conquistas de Abril.
E aqueles "outros", que "têm Mundo" neste cu de mundo, que emigram, por agradecimento de serviços prestados???!!!...
(Vítor Gaspar, Álvaro Santos Pereira e José Luís Arnaut).

(Falta de psicólogos, ou outros, já se vê!)
Está uma noite de ventos assassinos que perseguem roupas quentes e fortes, demasiado fracas para esta natureza...
A vida in heaven...

Rotinas/hábitos...

O hábito é um refúgio no qual repousamos a caminho de casa, quando sabemos que lá dentro nos espera o sempre igual. O inesperado adocica qualquer coisa a rotina que nos suporta, não fosse ele e o tédio faria com que a matemática tomasse conta de nós, cruzes canhoto. Ainda assim não descolamos da importância que a segurança tem para a nossa identidade, e quantas vezes não redimensionamos o universo só porque fora de nós surge uma outra realidade? Pela minha parte preciso assumidamente de quotidianos, como uma janela quase aberta de manhã, um perfume de flores na Primavera, um bâton forte  no Inverno, um vestido leve no Verão.
Não me consigo descolar do que me faz sentir em casa, desligar do que ambiciono, não imagino a corrida presente sem ponto de partida e pontos de chegada, locais que podem até mudar por forças anímicas do mundo, mas que serão sempre aqueles que eu quero. 
Eu gostava muito de saber viver só com o agora. Confesso que às vezes tento ... mas não consigo!
O passado são fantasmas, uns bons e outros maus, e o futuro muitas vezes são desilusões! 

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

O meu país é uma ruína...(entregues à bicharada ).

No meio desta voracidade que arrasta a maioria, há uma minoria que enriquece cada vez mais e estimula os incautos (para não lhes chamar ignorantes) a comportamentos puramente egoístas.
Não podem é continuar a perseguir uns e a poupar outros. Não podem dispor da nossa vida como se nós fossemos meras rubricas estatísticas. Não podem roubar a nossa dignidade, por mais constitucional que isso possa ser!
Na altura achei bem ser uma mulher a tornar-se a figura número 2 do estado português, mesmo não sendo eu da cor política que ela representa . Tem caído em algum descrédito, e de forma frequente, com frases infelizes, pretensamente cultas mas, na verdade, profundamente ridículas. Desta forma, esta loura, a fazer jus ao injusto epíteto ligado à cor do cabelo, poderá ser mais do que distraída 
( nestes tempos de desânimo, as coisas que me vêm à cabeça!) . E assim sendo, e pior, as figuras número 1 e 2 não são nada abonatórias em relação a pensamento e, sobretudo, comunicação inteligente e sensata. Ou em relação a eficácia governativa. Na verdade, desta forma , estamos mais do que entregues à bicharada.
Vou cuidar melhor dos pássaros que vivem na minha cabeça.
Para voltar a respirar tranquilamente e olhar para onde vale mesmo a pena olhar. Porque a estupidez pode ser infinita, mas a vida não é.

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Em 9 de janeiro de 1908 Simone de Beauvoir nasceu em Paris.


Uma intelectual no tempo...
Simone cumpriu o seu papel como mulher, pensadora, ficcionista, ensaísta, memorialista.
 Mostrou-nos que para pensar e viver é necessário mergulhar na diferença, sair dos padrões, assumir que o indivíduo é único apesar de todas as pressões externas que podem impeli-lo à alienação, à servidão, ao conformismo, à reprodução de normas e regras sociais.
Liberdade é um conceito fundamental no pensamento de Simone: para ela, liberdade é a incerteza, o risco, a ambiguidade.
Simone incomoda porque não fez o que nós gostamos de pensar hoje que ela deveria ter feito: não foi boazinha, não evitou escrever sobre temas "feios" como aborto, masturbação, dominação, submissão, e pior, em nenhum momento de sua vida se desfez em desculpas por essas impropriedades.
Os ideais que inspiraram o amor entre Simone de Beauvoir (1908-1986) e Jean-Paul Sartre (1905-1980) não poderiam ser mais românticos. 
Se amor pleno e liberdade absoluta são duas grandes utopias, o projeto do casal de unir esses dois ideais numa relação afetiva foi um desafio a todos os valores de sua época. Eles venceram o desafio. 
Simone de Beauvoir não era uma mulher. Era várias. Um exemplo: ao mesmo tempo em que era conhecida como uma filosofa de comportamento escandaloso para sua época, de vida desregrada e boémia, era controlada e organizada em tudo o que fazia.
 "Não se nasce mulher, torna-se mulher."

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Devaneios... o horizonte de um destino.

Quando sonho, a casa nem sempre é a mesma distante da infância que fui. Achei que haveria de sonhar com outras paredes levantadas de um chão que não fosse meu na raiz.
Quadros pintados à mão, nos corredores, nos recantos . Uma sala recheada de livros e pequenos tesouros. As dálias , as hortensas azuis no jardim , as janelas , leves como a alma das aves.  As cerejeiras onde posso  ouvir o canto dos pássaros , os céus como lençóis macios...

 É esta casa que se me abre no peito, enquanto durmo .
Uma casa com recantos mínimos de felicidade.

Não quero possuir ou dominar porque quero ser: esta é a necessidade.

  Pedigree e elegância. Pedigree representa  a nossa raça, o  nosso sangue, a nossa origem, a nossa casta...

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Em modo: Contra o marasmo. Bom Dia de Reis!!!


Um ser humano faz de si o que é capaz de fazer e não o que a vida fez dele. Traumas, torturas, privações, perdas, dores, não constituem a fórmula universal e infalível nem para um caráter forte e vertical nem para um fado de desgraça e perdição. Também não definem à partida se  evolui para a humildade ou se, pelo contrário, se encontra conforto na arrogância e na altivez. O que se vive pesa e complica, é certo. Mas não é argumento único para justificar o caminho seguido.
Existem aquelas pessoas que dizem sempre a mesma coisa, emanam sempre o mesmo cheiro, olham sempre com os mesmos olhos, fecham-se em timbres iguais, defendem-se na ladainha habitual. Nunca há convite que as acorde nem efeméride que as tire do local, como não há feitiço que lhes quebre a monotonia fixada em cada ossinho do corpo, em cada milímetro de pele, em cada segundo do vida.
Então, como vai isso? Cá vamos, cá vamos.
No "cá vamos" subentende-se "andando", que é como quem diz, vamos andando por cá, à espera do euromilhões e na esperança que alguém faça alguma coisa para que possamos passar a responder que "está tudo bem", sem que por isso se tenha de fazer alguma coisa.
Ó diabo, assusto-me sempre. Olhem se a coisa se tornar pegadiça?!!! 

 Tudo porque a inércia é amiga da apatia, que rima com sensaboria, moradora ali para os lados do marasmo...
Contra a morte. Bom dia de Reis!
A luminosa Adorazione dei Magi pintada por Gentile da Fabiano.

domingo, 5 de janeiro de 2014

Dias nublados têm um quê com memórias...


Foi-se a Amália e foi-se o Eusébio, mas Fátima continua de ótima saúde...
...fica a memória.
Na vida, ocorrem estranhos momentos de alienação, aqueles em que nos damos conta, se não da impossibilidade, pelo menos do desinteresse de comunicar, contar do passado, do que foi e já não é, dos sentimentos que ocorriam em circunstâncias perdidas ou ultrapassadas, das alegrias possíveis num tempo de simplicidade que para sempre desapareceu.
De modo que vou calando o passado; sofrendo um presente sem rumo, desgovernado, desprotegido de valores , uma cultura podre, um reino de tolos, de zombeis, de bobos da corte.
O poder e a força aparentemente estão mais do lado do Mal mas sabemos todos (o Mal também sabe e por isso tão bem se defende) que o Bem se fará valer. 

Qualquer dia, qualquer dia...
Portanto desinteressada de um futuro que por certo dispensará a memória do que foi.



sábado, 4 de janeiro de 2014

Em modo: não questiones, não penses, não duvides.


O tempo presente e o tempo passado, estão ambos talvez presentes no tempo futuro,
e o tempo futuro contido no tempo passado.
De há meses para cá gastei horas, muitas horas, a criar personagens, a desenvolver cenas e enredos, a imaginar o fim, mas esta tarde achei os personagens antipáticos, artificiais, as cenas uma miséria, do enredo nem quero falar.
Todavia, não lamento o esforço perdido nem o trabalho sem proveito. O que desta vez me pôs a pensar foi para onde irá toda essa gente que "matei". Haverá perigo de que se vinguem e um dia destes retornem, fingindo-se outros, mostrando-se aceitáveis, obrigando-me de novo a gastar horas e engenho?
Dias luminosos para todos.

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Um governo humilhante, humilhado, mas nunca humilde!!!...


Acagaçados,  de joelhos e de mãos em prece não sobrará a dignidade de existir.

Deixar passar é o remédio. Aguentar. Aguardar que a tempestade acalme, o céu clareie, mesmo que seja apenas uma réstia de azul aqui e ali. Ter a paciência dos que sofreram muito e contam belas histórias onde há sempre luz ao fim do túnel. Olhar de frente, ir de passo firme e decidido. Conseguir o sossego e paz de alma que possuem os virtuosos e os humildes, os inocentes, os que não receiam vergar. Manter a cabeça alta quando a tristeza a leva a descair.
Isto dito e escrito, resta que animar é fácil, mas pouco ajuda aquele que tem de remar contra ventos e marés.
Calibrai-vos, dizem eles!!!...Morram canalhas, digo eu!!!
E a verdade é que o Governo vai ganhando. Não há gafe, escandâlo ou ilegalidade que o pare. De humilhação em humilhação, vai ganhando. Como é um governo humilhante, humilhado, mas nunca humilde, quer mostrar que ganhou, com todos os meios à sua disposição, que não são poucos.



quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Nuvens...vemos, ouvimos e lemos não podemos ignorar!!! (O provedor do povo).


Não fosse o mau tempo, e a noite, e esta estação do ano, o que eu gostava mesmo era ver umas nuvens cinzentas dissiparem-se num bonito céu azul, e um tal coiso, chamado Aníbal...Cavaco Silva - aquele que se intitula provedor do povo - engolido num tufão.
Veio de novo conversar com os seus protegidos, recorrendo ao cardápio e à lengalenga do costume, aconselhando paciência e muita fé nos bons tempos que aí virão, à mistura com umas quantas banalidades. Só que não aponta datas, apenas vagas perspetivas.
Os portugueses que não têm emprego, os que foram forçados a emigrar, os que passam privações, os que não podem fazer face aos encargos que assumiram porque os seus rendimentos foram abruptamente cortados, os pais que não conseguem sustentar os filhos, os avós que não podem mais apoiar filhos e netos, e tantos outros cujas histórias de vida nem imaginamos, têm razões para se sentirem chocados com a displicência e insensibilidade com que o Presidente afirmou na sua mensagem de Ano Novo que "Apesar da redução dos padrões de bem-estar, a liberdade e os direitos de cidadania não foram postos em causa."
O que serão para o Presidente a "liberdade" e "os direitos de cidadania"?. Pensará que a liberdade existe porque podemos criticá-lo a ele e ao governo e fazer manifestações? E pensará que quem não tem trabalho nem casa, quem come na sopa dos pobres mantém os direitos de cidadania?
E o Presidente não tem nada a dizer sobre o fato de, uma vez mais, o governo ter visto declarada inconstitucional uma das mais emblemáticas medidas da sua política económica? Ou será que a convergência das pensões era a única inconstitucionalidade que o preocupava e os cortes na função pública não são problema seu???...
Sem delongas ,Cavaco é um verdadeiro comediante.