quarta-feira, 30 de abril de 2014

A escada e a queda!!!...(As leis-medida e as leis feitas à medida).

As leis-medida e as leis feitas à medida, noção demasiado conhecida para necessitar de ser aqui reproduzida...

De quando em vez, apetece fechar os olhos e dormir. De quando em vez, apetece fechar os olhos, dormir e não acordar mais. Assim, simplesmente...
A escada surge, muitas vezes, como o símbolo de uma árdua subida ao que é mais elevado, mas é também um instrumento de descida. Melhor, a escada é uma forma de ocultar a própria queda...

" - Sei apenas duas coisas muito simples, disse Heikal.
(…) - A primeira é que o mundo onde vivemos é regido pela mais ignóbil quadrilha de tratantes que alguma vez pisou o chão deste planeta.(…)

A segunda é esta: acima de tudo, convém não os levarmos a sério;
é isso que eles querem, que os levemos a sério.
(Albert Cossery)


Nunca os levarei a sério. A eles os políticos das politicas, e das politiquices. Dos interesses por detrás de cada medida, de cada gesto.
E vem isto a propósito de quê ?

Do genocídio, que fazem aos novos, aos menos novos, aos mais velhos!!!...

Pobreza - a Bem da Nação?!...

A terminologia política vai deixar de recorrer ao termo "desempregados" e passar a falar de "pobres"... porquê? Porque, no entendimento do poder económico-financeiro internacional, em cuja lógica se inscrevem as governações e ideologias do poder, o Direito ao Trabalho não é um direito universal mas, apenas, uma possibilidade ditada pelas oportunidades criadas pelos mercados!!!...
A condição de "trabalhador" deixa de ser o estatuto condigno inerente à existência cívica de cada pessoa, consequentemente, o direito a uma vida digna dependerá, cada vez mais, das flutuações oportunistas do exercício público da caridade dos governantes...     
 Só o sabe quem entranha a vida e o que vem com ela. O resto são meras suposições, tão frágeis como a previsão incerta de um destino escrito em linhas de mão. Mais ou menos coisa nenhuma. 





terça-feira, 29 de abril de 2014

"Sopa dos pobres" já mata a fome a crianças"...Triste povo, este que não tem memória.

A minha imagem do 25 de abril...

 Para os que nasceram depois de 74, mais do que qualquer coisa, o 25 de Abril tornou-se só um feriado...


Nascer perdido, do acaso.
Crescer perdido, do abandono.
Viver perdido, do rumo.


(Olhar de menino tímido que ousou o sonho)


Como é que se faz para sonhar?!...

"Sopa dos pobres" já mata a fome a crianças"

"Austeridade de 30 mil milhões não chegou para cumprir meta do défice".

Ó meus meninos, agora que vocês têm a liberdade de escolha, têm a arma do voto para expulsar governos, autarcas e presidentes corruptos e, que vão fazer por isso???...
Triste, triste povo este que não tem memória. Triste povo que hoje tem saudades da ditadura e admira Salazar...
Relembro:
"A cantina escolar
- Gostei tanto de ir hoje à escola, minha mãe! A senhora professora estava muito contente, porque inaugurou uma cantina, onde os meninos pobres podem almoçar de graça. Se visse, Mãezinha! As mesas muito asseadas, os pratos branquinhos, jarras floridas e tudo tão alegre!
A sopa cheirava que era um regalo; e todos nós estávamos satisfeitos, ao ver os pobrezinhos matar a fome.
O filho do carpinteiro, a quem eu às vezes dava da minha merenda, de vez em quando ria-se para nós, como que a dizer:
- Está óptima, a sopinha!
Perguntei à senhora professora quem tinha feito tanto bem à nossa escola e ela respondeu-me:
- Foi o Estado Novo que gosta muito das crianças e para elas tem mandado fazer escolas e cantinas, creches e parques. Mas as famílias que possam também devem ajudar. Não te esqueças de o dizer à tua mãe."

 Quem me dera que fosse possível que toda a gente neste país tivesse a verdadeira memória do 25 de Abril e a defendesse com unhas e dentes e cravos vermelhos...


sexta-feira, 25 de abril de 2014

40 anos depois...qual a cor da liberdade?!!!

 
Talvez a despropósito (ou talvez não!)...
... lembrei-me disto.

"Às vezes construímos sonhos em cima de grandes pessoas… O tempo passa… e descobrimos que grandes mesmo eram os sonhos e as pessoas pequenas demais para torná-los reais!"
(Bob Marley)

Qual a cor da liberdade?
É verde, verde e vermelha.
Quase, quase cinquenta anos
reinaram neste pais,
e conta de tantos danos,
de tantos crimes e enganos,
chegava até à raiz.
Qual a cor da liberdade?
É verde, verde e vermelha.
Tantos morreram sem ver
o dia do despertar!
Tantos sem poder saber
com que letras escrever,
com que palavras gritar!
Qual a cor da liberdade?
É verde, verde e vermelha.
Essa paz de cemitério
toda prisão ou censura,
e o poder feito galdério.
sem limite e sem cautério,
todo embófia e sinecura.
Qual a cor da liberdade?
É verde, verde e vermelha.
Esses ricos sem vergonha,
esses pobres sem futuro,
essa emigração medonha,
e a tristeza uma peçonha
envenenando o ar puro.
Qual a cor da liberdade?
É verde. verde e vermelha.
Essas guerras de além-mar
gastando as armas e a gente,
esse morrer e matar
sem sinal de se acabar
por politica demente.
Qual a cor da liberdade?
É verde, verde e vermelha.
Esse perder-se no mundo
o nome de Portugal,
essa amargura sem fundo,
só miséria sem segundo,
só desespero fatal.
Qual a cor da liberdade?
É verde, verde e vermelha.
Quase, quase cinquenta anos
durou esta eternidade,
numa sombra de gusanos
e em negócios de ciganos,
entre mentira e maldade.
Qual a cor da liberdade?
E verde, verde e vermelha.
Saem tanques para a rua,
sai o povo logo atrás:
estala enfim altiva e nua,
com força que não recua,
a verdade mais veraz.
Qual a cor da liberdade? 

Jorge de Sena - Cantiga de Abril
Onde ficaram os ideais de Abril pelos quais tantos lutaram???...

quinta-feira, 24 de abril de 2014

A coragem emergiu!... A memória dos quarenta, com Zeca Afonso - Vejam Bem.


Aqui fica em mosaico a revolução que se fez e que mudou os nossos dias. Não adianta retirarem-lhe significado pelo que podia ter acontecido a seguir e pelo que tem acontecido entretanto. A coragem emergiu, o silêncio quebrou-se, a noite caiu...

Vejam bem...



quarta-feira, 23 de abril de 2014

Neste dia mundial dos livros...Ontem, hoje e amanhã ,( O Principezinho , Capitães da Areia).


Num dia dedicado aos livros, poderia fazer aqui uma elencagem de todos aqueles que li, que não li, que não quero ler, que gostava de ler, mas isso seria demasiado exaustivo e arrisco, cansativo. Não o fazendo corro também o risco de ser redutora nas minhas escolhas, contudo assumo esse risco e responsabilizo essas escolhas por um pouco do que sou...
O Principezinho,de Antoine de Saint-Exupery, foi um livro que me marcou , confesso que foram as ilustrações que inicialmente me cativaram, mas à medida que fui lendo descobri, na minha até então ingenuidade, que o mundo não era perfeito mas ainda assim, podíamos sempre melhorá-lo um bocadinho desde que com amor e amizade.Um livro que marca pela intemporalidade da sua mensagem, em que os valores humanos se fazem vincar. Em que o essencial não está à vista mas sim naquilo que é invisível e está algures escondido no íntimo de cada um de nós.
Capitães da Areia, de Jorge Amado, um livro lido há pouco tempo. Provavelmente, deveria tê-lo lido antes ...mas julgo que ainda o li em boa altura! Um livro que retrata uma parte da realidade dos jovens, aqueles com que diariamente nos cruzamos, nas ruas, nas escolas, na vida... Aqueles que são oriundos de famílias desestruturadas que encontram por aí um escape para as suas frustrações, ansiedades, rebeldias...carências que violentamente escondem por detrás de uma máscara de ferro. E para muitos deles bastava-lhes um sorriso, um elogio, uma atenção ...
E hoje são estes os livros que arrumo no meu cerra-livros... Onde cabem também os vossos!...



terça-feira, 22 de abril de 2014

Um rosário de pérolas, para porcos, desgraçadamente!...

O 25 de abril foi ontem: nada há de mais próximo do que a liberdade. Quarenta anos depois, o que fez a jurisprudência da liberdade?...
A política prescreveu; parece que não há responsáveis...


"A mais imunda vasa humana a vir à tona, as invejas mais sórdidas vingadas, o lugar imerecido tomado de assalto, a retórica balofa a fazer de inteligência"/Junho de 1975  (Miguel Torga)

"A revolução acabou, naquele país só há ódio"/Julho 1974

o país não está dividido (…) divididos estão os que pretendem assumir o poder ou manobrá-lo, os que querem impor quanto antes as suas visões partidaristas à realidade nacional ”/Março de 1975

"(…) Revolução, que eu já chamei dos Cravos e dos Cravas,(…)"/Março de 1978 (Jorge de Sena) 

"Somos um país de «elites», de indivíduos isolados que de repente se põem a ser gente. Nós somos um país de «heróis» à Carlyle, de excepções, de singularidades, que têm tomado às costas o fardo da nossa história. Nós não temos sequer núcleos de grandes homens. Temos só, de longe em longe, um original que se levanta sobre a canalhada e toma à sua conta os destinos do país. A canalhada cobre-os de insultos e de escárnio, como é da sua condição de canalha. Mas depois de mortos, põe-os ao peito por jactância ou simplesmente ignora que tenham existido. Nós não somos um país de vocações comuns, de consciência comum. A que fomos tendo foi-nos dada por empréstimo dos grandes homens para a ocasião. Os nossos populistas é que dizem que não. Mas foi. A independência foi Afonso Henriques, mas sem patriotismo que ainda não existia. Aljubarrota foi Nuno Álvares. Os descobrimentos foi o Infante, mas porque o negócio era bom. O Iluminismo foi Verney e alguns outros, para ser deles todos só Pombal. O liberalismo foi Mouzinho e a França. A reacção foi Salazar. O comunismo é o Cunhal. Quanto à sarrabulhada é que é uma data deles. Entre os originais e a colectividade há o vazio. O segredo da nossa História está em que o povo não existe. Mas existindo os outros por ele, a História vai-se fazendo mais ou menos a horas. Mas quando ele existe pelos outros, é o caos e o sarrabulho."(Vergílio Ferreira)


sexta-feira, 18 de abril de 2014

"Se despide un genio"...(Gabriel García Márquez).

A morte é sempre coisa pequena se comparada com vida tão grande...


" ...
A uma criança, daria asas, mas deixaria que aprendesse a voar sozinha.
Aos velhos ensinaria que a morte não chega com a velhice, mas com o esquecimento..."


Um génio da literatura, um ativista político, um Nobel mais do que merecido. Se não leram os Cem de Solidão, recomendo vivamente que o façam. É um livro maravilhoso, junto com o Amor nos tempos de cólera...
A imaginação deste homem foi qualquer coisa de transcendente e genial.
Fica a obra, uma imensa obra.


sexta-feira, 11 de abril de 2014

A palavra à mulher...na companhia de Paco Ibañez.

"Estamos enterrados em convenções até ao pescoço: usamos
as mesmas palavras, fazemos os mesmos gestos. A poeira
entranhada sufoca-nos. Pega-se. Adere."

(Raul Brandão)

O corpo de mulher dói...
A traição do corpo começa quando a cabeça deixa.
E a cabeça deixa sempre que o corpo trai.
Não é só a humidade ou o frio. Se fosse o caso, os dias melhores seriam dourados.
Não. Tudo começa na cabeça e depois está nos ossos e custa a subir as escadas, a guiar, a dormir. A seguir há qualquer coisa que acontece e a cabeça diz-nos que temos de ir, de fazer. Ou então, num cenário pior, é a vida que nos mostra a dor dos outros, a morte dos outros, tudo se agiganta e temos de reagir.
Ter  memória é algo impossível de controlar.
A maioria das pessoas não gosta que os outros a tenham ou, de preferência, se têm, pois que se calem.
Quanto mais me dói, menos calada consigo ficar. Uma merda.


Na boa companhia de Paco Ibañez " Me queda la palabra"...
Se o mundo, ou o meu mundo desabar apanha-me de surpresa, estou tranquila...



De pequenino se torce o destino...(com Sérgio Godinho)

"Um tractor", canção muito datada, mas essencial...à compreensão dos grandinhos!


De pequenino se torce o destino...

A pergunta básica era o porquê. Claro, os porquês invadem-nos a meninice curiosa e perseguem-nos porventura até ao lugar final, porque somos assim, porque queremos de tal forma, de onde provimos, para onde vamos, será que voltamos, porque fazemos muito além do que é básico à sobrevivência, e adiante.
Fico feliz com curiosidades, revelam-me sempre uma busca continuada de justificações que não surgem, como uma eterna procura, um remédio sem efeito, uma incessante insistência, um móbil disfarçado.

(Quero acreditar no efémero que ontem encantava os meus olhos).
Giorgio Chirico

quarta-feira, 9 de abril de 2014

Este país "nos" mata lentamente. Perigoso será se com medo recolhermos...


A imagem do país pobrezinho, tacanho e inenarrável onde nasci e vivo, desilude-me  e desgosta-me, mais e mais, a cada dia que passa...

É por isso que por mais que me lembre das metáforas de Jorge Palma (...)"enquanto houver estrada pr'andar a gente vai continuar", eu olho à minha volta e é Sophia de Mello Breyner que se lhe sobrepõe:

Irás ao paço.
Irás pedir que a tença
Seja paga na data combinada.
Este país te mata lentamente
País que tu chamaste e não responde
País que tu nomeias e não nasce.

Em tua perdição se conjuraram
Calúnias desamor inveja ardente
E sempre os inimigos sobejaram
A quem ousou ser mais que a outra gente.
(...)
Irás ao paço irás pacientemente
Pois não te pedem canto mas paciência.
Este país te mata lentamente.




terça-feira, 8 de abril de 2014

Um recado para Cavaco Silva... (de Alexandra Lucas Coelho que recebeu o prémio literário da APE, pelo romance "E a Noite Roda".


"(...) Este livro é político, como todos os que fiz, como tudo o que faço, pelo simples facto de me pôr em relação com outros. Estar aqui hoje é político, falar em público é político. Onde há um colectivo há política.(...)"
Tal como acontecera já , Cavaco Silva não esteve presente, mandou um amanuense qualquer representá-lo. 
Alexandra Lucas Coelho foi frontal e disse coisas como estas:
"Este prémio é tradicionalmente entregue pelo Presidente da República, cargo agora ocupado por um político, Cavaco Silva, que há 30 anos representa tudo o que associo mais ao salazarismo do que ao 25 de Abril, a começar por essa vil tristeza dos obedientes que dentro de si recalcam um império perdido.
E fogem ao cara-cara, mantêm-se pela calada. Nada estranho, pois, que este presidente se faça representar na entrega de um prémio literário. Este mundo não é do seu reino. Estamos no mesmo país, mas o meu país não é o seu país. No país que tenho na cabeça não se anda com a cabeça entre as orelhas, “e cá vamos indo, se deus quiser”.
(…)
Eu gostava de dizer ao actual Presidente da República, aqui representado hoje, que este país não é seu, nem do governo do seu partido. É do arquitecto Álvaro Siza, do cientista Sobrinho Simões, do ensaísta Eugénio Lisboa, de todas as vozes que me foram chegando, ao longo destes anos no Brasil, dando conta do pesadelo que o governo de Portugal se tornou: Siza dizendo que há a sensação de viver de novo em ditadura, Sobrinho Simões dizendo que este governo rebentou com tudo o que fora construído na investigação, Eugénio Lisboa, aos 82 anos, falando da “total anestesia das antenas sociais ou simplesmente humanas, que caracterizam aqueles grandes políticos e estadistas que a História não confina a míseras notas de pé de página”.
Este país é dos bolseiros da FCT que viram tudo interrompido; dos milhões de desempregados ou trabalhadores precários; dos novos emigrantes que vi chegarem ao Brasil, a mais bem formada geração de sempre, para darem tudo a outro país; dos muitos leitores que me foram escrevendo nestes três anos e meio de Brasil a perguntar que conselhos podia eu dar ao filho, à filha, ao amigo, que pensavam emigrar.
(…)
Os actuais governantes podem achar que o trabalho deles não é ouvir isto, mas o trabalho deles não é outro se não ouvir isto. Foi para ouvir isto, o que as pessoas têm a dizer, que foram eleitos, embora não por mim. Cargo público não é prémio, é compromisso.

http://www.publico.pt/cultura/noticia/discurso-alexandra-lucas-coelho-1631449


Grande Alexandra, que bom discurso. Empolgante, justo, desafiador...

segunda-feira, 7 de abril de 2014

Se há coisa que me causa horror, são pessoas com poliéster na alma...

Coisas rascas e tristes sempre as haverá, gostemos ou não.


Procuro palavras originais,  fortes e autênticas, mas nem sempre elas chegam para dizer tudo que penso e sinto. E sobra o desconforto do que não pode calar-se, e não é redutível às palavras, e existe apenas no mais fundo de nós.

Ilumina-me nas palavras de Pedro Abrunhosa...