quarta-feira, 31 de julho de 2013

Ah, como dói viver quando falta a esperança! (Desesperança, Poema de Manuel Bandeira).

Esta manhã tem a tristeza de um crepúsculo.
Como dói um pesar em cada pensamento!
Ah, que penosa lassidão em cada músculo. . .

O silêncio é tão largo, é tão longo, é tão lento

Que dá medo... O ar, parado, incomoda, angustia...
Dir-se-ia que anda no ar um mau pressentimento.

Assim deverá ser a natureza um dia,

Quando a vida acabar e, astro apagado,
Rodar sobre si mesma estéril e vazia.

O demônio sutil das nevroses enterra

A sua agulha de aço em meu crânio doído.
Ouço a morte chamar-me e esse apelo me aterra...

Minha respiração se faz como um gemido.

Já não entendo a vida, e se mais a aprofundo,
Mais a descompreendo e não lhe acho sentido.

Por onde alongue o meu olhar de moribundo,

Tudo a meus olhos toma um doloroso aspeto:
E erro assim repelido e estrangeiro no mundo.

Vejo nele a feição fria de um desafeto.

Temo a monotonia e apreendo a mudança.
Sinto que a minha vida é sem fim, sem objeto...
- Ah, como dói viver quando falta a esperança!
(Manuel Bandeira)
Dir-me-ão que os meus lamen­tos nada acres­cen­tam, que o meu ce­ti­cismo só agrava a depres­são que é já de todos. E eu, humil­de­mente, con­cedo que sim...