domingo, 27 de outubro de 2013

Memórias..."brincar às casinhas". Qualquer dor é a totalidade do mundo.


As sombras não são boas companheiras, parece que sugam a vida. 
Aos poucos, a vida, destituída de luz, vai procurando mais e mais sombra...
E depois já não são apenas sombras, já é um negrume que avança como irreversível gangrena.
De cada vez que me acontece voltar à infância, uma das memórias que sempre tenho é aquilo a que chamávamos brincar "às casinhas". 
De cada vez que volto à infância uma das memórias mais felizes que tenho é do tempo em que fazíamos de conta que éramos Deus... a vida de todas aquelas "pessoas" estava nas nossas mãos e todos eram felizes, com saúde, amigos, trabalho, dinheiro e, sobretudo, muita segurança.

 Desenhávamos....de cada vez que não ficava bem à primeira voltávamos a desenhar de novo.  Porque será que a Deus não foi dada essa hipótese? Se pudesse de novo "brincar às casinhas" juro que Lhe daria muito mais que sete dias para criar o universo... e como naquele tempo não havia ainda computadores com a tecla "delete" dava-lhe um pau de giz colorido e um apagador, não fosse ele precisar...

     (Álvaro Cunhal)
Qualquer dor é a totalidade do mundo.