Não gasto o meu precioso tempo a dissecar as mentiras que se escondem em cada lomba, nem dou crédito às informações podres de qualquer maduro.
Talvez pelas reminiscências tétricas, nunca me agradou a ideia de um buraco para desaparecer. Nas situações de embaraço, sempre preferi uma nuvem. Por isso, não saio à rua sem ela, metida na carteira. Posso esquecer-me das chaves de casa, do guarda-chuva, mas nunca da minha nuvem. Garante-me a cobertura do vago e do que flui, alegra as crianças, as únicas que intuem a sua discreta presença, molha as respostas secas, hidrata-me a pele. Na minha insónia de ontem, ouvi o que dizia em sonhos:
"Sabias que a verdade é um aviso?"....
Contra o primeiro, cumprirei o meu papel, consciente da sua insignificante eficácia. Mas como evitar que ela se encontre com outra? Receio que, juntas, façam coisas que só às nuvens ocorre fazer. É que se já houve quem recolhesse muitas nuvens do corpo das pessoas, é porque elas andam aí.