Tinha uma imaginação tão poderosa que as ideias já não lhe cabiam na cabeça nem nos meios de registo disponíveis, pelo que tinha a casa a abarrotar delas. Saíam pelas bocas dos guarda-jóias, entupiam os ralos, formavam bolas debaixo das camas e dos tapetes. E continuavam a surgir-lhe aos borbotões, em cascata, em jorro, só ou em companhia, a toda a hora, mesmo enquanto dormia.
Ouviu dizer que as ideias (verdes, azuis ou maduras) tinham ganho cidadania no próspero mercado de acções. Mas vender as suas criações sabia-lhe a vender a alma. Decidiu-se, e se lhe repugnava vendê-las, ofereceu-as: aos amigos, a instituições, ao governo. Porém, depressa começou a sentir a falta do estímulo das suas velhas ideias para gerar novas e a ter menos visitas e telefonemas. Entrou em depressão e nem as notícias sobre o sucesso global da aplicação dos frutos da sua prodigiosa fantasia lhe despertavam o interesse pela criação de outras ideias. Morreu de tristeza e ao seu enterro apenas compareceu uma velha viciada em funerais que perguntou: «quem era?». O cangalheiro não fazia a menor ideia.