domingo, 25 de agosto de 2013

ideias que não cabem na cabeça...

Tinha uma imaginação tão poderosa que as ideias já não lhe cabiam na cabeça nem nos meios de registo disponíveis, pelo que tinha a casa a abarrotar delas. Saíam pelas bocas dos guarda-jóias, entupiam os ralos, formavam bolas debaixo das camas e dos tapetes. E continuavam a surgir-lhe aos borbotões, em cascata, em jorro, só ou em companhia, a toda a hora, mesmo enquanto dormia.
Ouviu dizer que as ideias (verdes, azuis ou maduras) tinham ganho cidadania no próspero mercado de acções. Mas vender as suas criações sabia-lhe a vender a alma. Decidiu-se, e se lhe repugnava vendê-las, ofereceu-as: aos amigos, a instituições, ao governo. Porém, depressa começou a sentir a falta do estímulo das suas velhas ideias para gerar novas e a ter menos visitas e telefonemas. Entrou em depressão e nem as notícias sobre o sucesso global da aplicação dos frutos da sua prodigiosa fantasia lhe despertavam o interesse pela criação de outras ideias. Morreu de tristeza e ao seu enterro apenas compareceu uma velha viciada em funerais que perguntou: «quem era?». O cangalheiro não fazia a menor ideia.