quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Não sei sentir-me onde estou. É preciso fugir, é preciso fingir, é preciso fintar...


Não estamos felizes com o que nos está a acontecer, mas tem de ser. Temos de nos calar e sofrer, como os nossos pais, avós, bisavós. É a vida! É aguentar. Nada a fazer. Eles é que mandam.
Isto estaria tudo muito bem se se tratassem dos homens do café, cuja filosofia não vai além da estratégia de futebol.
Agora, meus senhores, gente que ganha prémios literários, gente que faz crítica, que pensa e escreve?! Que sabe e pode exprimir ideias?! Que vergonha sois para vós, para o mundo e quem vos trouxe a ele!
Morre gente de fome, de frio, de maleitas sabidas e coisas ignotas, ardem florestas, afogam-se cidades, nascem almas que hão-de fatalmente penar e, mesmo assim, existe quem se ria, quem tenha belos sonhos e ouse achar-se feliz.
Muito bem: dói e é pesado como um balão que quase explode dentro do "eu" que não se sabe explicar, mas é imperioso que exista esse território de fantasia, para sobrevivermos à medonha realidade, a real, aquela que às vezes roça por nós e fede, enquanto pedevintecêntimosparaumasopaenãoestouamentirsenhora. Uma tristeza, andar por aí de olhos abertos e coração a sangrar. É preciso fugir, é preciso fingir, é preciso fintar...

Continuamente me estranho.
Não sei sentir-me onde estou.

(Fernando Pessoa)